quarta-feira, 11 de julho de 2012

No Rio, valorização da equipe em escolas melhora resultados


Unidades bem avaliadas que atendem crianças pobres têm baixa rotatividade de professores


RIO - A baixa rotatividade no quadro dos professores, o bom relacionamento entre direção, corpo docente e alunos, reforço escolar para os que apresentam dificuldade e atenção redobrada com os que faltam são pontos em comum entre duas escolas da rede municipal do Rio que atendem crianças de baixa renda na Glória, Zona Sul da cidade, e em Bangu, na Zona Oeste. A Escola Municipal Maria Leopodina e o CIEP Professora Celia Martins Barreto têm Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) já acima da meta estabelecida pelo MEC para 2022: 6,0, patamar de países desenvolvidos.

Considerando a realidade nacional de pobreza — mais concentrada no Norte e Nordeste —, as duas escolas não chegam a atender alunos que se encontram no nível extremo de carência do país. Mas, mesmo assim, se destacam em levantamento feito a pedido do GLOBO pelo economista Ernesto Martins Faria, da Fundação Lemann, por terem bons resultados mesmo atendendo alunos pobres, considerando a realidade do Rio.
O prédio de seis andares que abriga a escola Maria Leopoldina não tem a arquitetura típica dos colégios municipais. Nem tampouco o interior da unidade, que atende 335 alunos da educação infantil ao sexto ano do ensino fundamental, em sua maioria — 90% — moradores da comunidade Santo Amaro, famosa por conta da cracolândia e atualmente ocupada pela Força Nacional de Segurança, parece com as escolas públicas do Brasil.
As paredes são decoradas com mural interativo — que muda todo mês e dá a chance da criança aprender brincando —, origami e frases que remetem ao projeto pedagógico, que este ano foca na máxima “gentileza gera gentileza” e em “um mundo sustentável”. O refeitório tem lugar para todos e as salas de aula estão decoradas com livros e material pedagógico. O Ideb, em 2009, foi de 6,3.
A diretora Sandra Cavalcanti, de 43 anos, e há 12 à frente da escola, diz que o bom resultado se dá por conta da equipe:
— A maioria dos professores está na escola há, pelo menos, 20 anos. Conhecem os alunos e os pais pelo nome, frequentam a comunidade e sabem a realidade das crianças — diz Sandra, que elogia a integração dos funcionários: — Do porteiro à merendeira, todos são comprometidos e conseguiram criar uma identidade acolhedora para a escola, onde a criança é feliz e tem a autoestima resgatada. Trabalhamos com uma comunidade que precisa ser valorizada.
O projeto pedagógico envolve todas as turmas. Cada sala tem uma palavra que remete ao tema “gentileza gera gentileza”, como amizade, amor, bondade e solidariedade. Por conta da Rio+20, a escola promove ainda atividades ligadas ao mundo sustentável, e algumas turmas têm aulas interdisciplinares: no 6 ano, a aula de música — com direito a professor específico e violão — trabalha “O Sal na Terra”, que é esmiuçada na aula de Ciências.
— Em outubro, eles vão trabalhar “Imagine” do John Lennon e a atividade vai envolver música, teatro e aula de inglês. Depois, faremos uma apresentação para os pais, que este ano já vieram ver uma exposição sobre como construir um ambiente mais solidário — diz Sandra.
‘Intenção é fazer diferença na vida das crianças’
Yago Madeira Souza, de 10 anos, está no 4 ano do ensino fundamental do Ciep Professora Celia Martins Barreto, em Bangu. Filho de uma empregada doméstica, o menino sonha alto: quer ser cientista. E já tem uma preocupação:— Quando eu for para o 6 ano, preciso de uma escola tão boa quanto essa. Tem que estudar muito para ser cientista, né?
O Ciep, que atende 330 alunos do ensino infantil ao 5 ano do ensino fundamental, a maioria moradores da Favela 48, do Sossego e do Morro do Sandá, oferece turno único, das 7h30m às 15h para o fundamental. A educação infantil é das 7h30m às 16h30m. Na sala de leitura, com professora específica, é possível ouvir histórias, desenvolver o gosto pela leitura e pegar livros emprestados. O Ideb, em 2009, foi 6,1.
— A maioria dos nossos alunos é criada por mães e avós. Muitas são domésticas ou trabalham em firmas de limpeza e não tiveram muito estudo. Sabendo dessa realidade, criamos uma relação afetiva com as crianças e com os pais. Aqui, elas não são um número — diz a diretora Christine Saisse, que lembra que o mundo delas é “restrito”:
— Muitas não conhecem nem o calçadão de Bangu. São crianças que nem sabem que podem sonhar, que não têm diálogo em casa. Então, a gente procura fazer com que acreditem que têm potencial. A ideia é que saibam que têm as mesmas condições de aprender de qualquer um. Mas para isso é preciso persistência.
Para dar conta do projeto, Christine conta com um quadro completo de professores, que têm horário específico para o planejamento das aulas:
— Eles ficam para trocar ideias e planejar as aulas. E se percebo que um não está integrado, converso, tento valorizar. A intenção é fazer diferença na vida das crianças.

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